Meu filho (a) vai entrar no CEI, preciso desmamar?

A resposta é “não”. O aleitamento materno é um direito previsto em lei. Não à toa, os CEIs da Primeira Infância da Liga Solidária oferecem acolhimento, rede de apoio e ajudam a articular políticas públicas que beneficiam as mães lactantes. Saiba mais.

Muitas mulheres acreditam que, ao matricular seu bebê em um Centro Educacional Infantil (CEI), vão precisar deixar de amamentá-lo. Mas isso não é verdade. Se a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é oferecer leite materno com exclusividade até os seis meses, e depois prolongar até dois anos de idade ou mais, não faria o menor sentido estimular o desmame antes disso.

“Nosso papel é incentivar o aleitamento e deixar as famílias cientes do seu direito de continuar a amamentar em prol do bebê que está aqui para crescer e se desenvolver em segurança,” destaca Thais Gomes Bueno Rosa, coordenadora pedagógica do CEI Menino Jesus, unidade da Primeira Infância da Liga Solidária que atende 247 bebês e crianças.  

Para ela, promover o aleitamento dentro dos centros educacionais significa oferecer uma rede de apoio às mães e engajar toda a equipe pedagógica nessa missão. Desde o ato da inscrição e matrícula as mães são comunicadas sobre a possibilidade de amamentar seus bebês no CEI/escola, já que existem ambientes acolhedores e específicos para isso.

Aquelas que não tem disponibilidade para irem lá, recebem orientações técnicas sobre a melhor forma de extrair e enviar o seu leite congelado para o armazenamento e promover à criança de forma segura nas unidades. 

A força quem vem do leite materno

“Vejo que muitas mães chegam com alguns estigmas, principalmente quando trabalham em um ambiente machista que não atende todas as necessidades da mulher. Outras acreditam que seu leite é fraco, ou que o filho vai ficar muito apegado se ela continuar amamentando, e tem até as que fazem desmame precoce por questões de estética (mamas flácidas e assimétricas). Fora isso, a maioria não está a par das leis e decretos que asseguram o aleitamento”, conta Renata Squiziato Mayor, auxiliar de enfermagem do CEI Menino Jesus, que também faz um trabalho dinâmico e didático para conscientizar colaboradores e as famílias atendidas sobre a importância do aleitamento.

Importante derrubar um os mitos e destacar que leite materno fraco não existe. De acordo com Renata, é justamente o contrário, já que ele contém todas as propriedades necessárias para o desenvolvimento do bebê. “Reúne nutrientes, aminoácidos, soro pra hidratar, eletrólitos, entre outros elementos que sustentam a criança. Esse leite é também rico em vitamina A e C, potássio e ferro. Tudo isso com fácil absolvição pelo corpo”, explica, acrescentando que ainda ajuda a reduzir doenças prevalentes da infância, como transtornos respiratórios, gastrointestinais e alergias cutâneas e respiratórias.

É claro que o processo de amamentação nem sempre é fácil ou possível para todas mães, principalmente no início. “A gente lida com muitos tabus, porque a maternidade, o puerpério e o aleitamento não são românticos, podem ser doloridos e sofridos. Cada mãe tem uma condição. Nesse primeiro momento, ela precisa de apoio e orientação. Mas, fazendo uma boa pega nas primeiras horas ou nos primeiros dias, o bebê vai se adaptar e a amamentação vai ser efetiva.”

Quando acontece sem contratempos, o aleitamento traz ainda uma série de benefícios à lactante. Um deles é a liberação de ocitocina, também conhecido como “hormônio do amor”, promovendo o bem-estar. Além de acalmar, também faz com que útero tenha uma contração melhor, diminuindo o fluxo de sangramento no pós-parto. Amamentar também fortalece o afeto, o carinho e o vínculo com a criança o filho , contribuindo para a diminuição das taxas de câncer de útero e de ovário.

A lista de vantagens poderia ir longe, mas vale finalizá-la destacando que esse é um assunto que também tem tudo a ver com sustentabilidade e economia: além de não precisar gastar com fórmulas ou compostos lácteos industrializados, famílias que amamentam reduzem o consumo de água, gás de cozinha e o descarte de latas e afins. O planeta agradece.

Novo projeto de lei

Analisando o aspecto jurídico dessa questão, em 2015 foi instituída a lei municipal paulistana nº 16.161, que assegura às mulheres o direto de amamentar em lugares públicos. Dois anos depois, a Secretaria Municipal de Educação (SME) cria a campanha CEI Amigo do Peito para incentivar ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno na Rede Municipal de Ensino. Todos os as as CEIs da Liga Solidária, aliás, ostentam com orgulho o selo amigo do peito, que garante, respeita e promove o aleitamento materno na Unidade Escolar.

Mas, não é só isso. Para além dos muros da escola, a Liga Solidária está envolvida na articulação de políticas públicas relacionadas a essa temática. No dia 31 de agosto deste ano, por exemplo, Thais Gomes Bueno Rosa e Renata Squiziato Mayor, participaram da Audiência Pública sobre  o Incentivo ao Aleitamento Materno nas Creches, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para apoiar a elaboração de um projeto de lei da deputada estadual Marina Helou, líder da Frente Parlamentar da Primeira Infância, que visa a ampliação do direito do aleitamento materno para todo o território estadual. 

Durante o evento, a equipe apresentou o plano de ação/ vivências que incentivam o aleitamento dentro das unidades da Primeira Infância da Liga Solidária a fim de validar a proposta da deputada e mostrar que executar o projeto dentro de instituições de ensino infantil é possível.

“A participação da Liga foi muito significativa porque a gente pôde ver que o trabalho que já acontece é realmente respeitoso e dá certo, sim. Mas é preciso querer e ter fo (rça de vontade, porque os desafios são muitos. É um trabalho de constância”, finaliza Thais, determinada a levar a causa adiante.